Entrevista com Dra. Mônica Pinto Leimgruber

Em nossa primeira entrevista exclusiva para o site PsyOps, o colaborador Master Maurício Viegas conversa com a Dra. Mônica Pinto Leimgruber. Psicóloga, Bacharel em Direito e Doutora em Psicologia (USAL/AR), Dra. Mônica é também Policial Penal do Estado de Mato Grosso do Sul e co-autora do artigo “SERVIÇO DE INTELIGÊNCIA POLICIAL PENAL: ESTUDOS FRENTE AS AÇÕES APLICADAS PELAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS” (Leia aqui…). Durante a entrevista, ela compartilha sua vasta experiência e discute a importância das Operações Psicológicas no contexto do sistema penitenciário, ao abordar temas como a manipulação de informações e o comportamento humano sob influência de organizações criminosas. Este é o começo de uma série de conversas com autores de artigos sobre Operações Psicológicas que pretendemos trazer para nossos leitores.

Dra Mônica, o que a motivou a abordar este tema em específico e qual a importância de se discutir essa temática no âmbito da Inteligência Penitenciária?

Este artigo foi pensado por eu ser psicóloga e estar há 22 anos no serviço penitenciário como funcionária pública da Agepen/MS.

Com o meu ingresso, em 2003, no sistema penitenciário do Estado de Mato Grosso do Sul (MS), via concurso público, o interesse pela temática penitenciária, em especial os presos, veio aumentando a cada ano. Como psicóloga, muitos trabalhos foram realizados em distintas penitenciárias, a exemplo grupos temáticos de orientação e atendimentos individuais adaptados à população carcerária.

Na época, a atuação do setor de psicologia nas unidades penais vislumbrava a recomposição de vínculos dos presos com a sociedade, buscando orientá-los e apoiá-los para a reintegração social, como preconiza o parágrafo 1º do artigo 25 da Lei de Execução Penal Brasileira (LEP).

Porém, em razão da rebelião, planejada e executada pelo PCC, ocorrida em maio de 2006, simultaneamente em diversos presídios do país, modificações no Tratamento Penal foram realizadas e a atenção da psicologia se voltou, quase que exclusivamente, à avaliação psicológica na equipe da Comissão Técnica de Avaliação (C.T.C.), composta por uma psicóloga, uma assistente social, pelo chefe de disciplina, pelo procurador autárquico e pelo diretor do presídio, para avaliar, cada um em sua área, as condições objetivas e subjetivas para a proposição de progressão de regime do apenado.

Parte desse momento, o redirecionamento do estudo na área da psicologia, que atualmente se volta para pesquisa sobre aspectos sociais e psicológicos frente à conduta de membros do PCC. Em 2013 eu entro para o serviço de inteligência penitenciária justamente por ser psicóloga.

A chefia queria que uma psicóloga comportamentalista lesse os manuscritos oriundos de membros do PCC, para tentar explicar sob o viés da psicologia a motivação da crescente “filiação” de presos ao PCC no estado de MS.

Durante anos de trabalho de inteligência e de pesquisa sobre organizações criminosas, uma matéria que muito me chamou a atenção foi operações psicológicas e comecei a buscar tecer um raciocínio lógico, do campo da pesquisa científica, de como e de quanto se existia de operações psicológicas no contexto do sistema prisional (meu campo de profissão e de pesquisa).

Em sua opinião, quais são os maiores desafios para a implementação de Operações Psicológicas no contexto da Inteligência Penitenciária?

Primeiro desafio é fazer com que os gestores e operadores de intel saibam da necessidade de estudar e compreender que o emprego de operações psicológicas neste contexto resultaria em uma melhor proposta de ação para o tomador de decisão.
Segundo desafio é de colocar o tema Operações Psicológicas como matéria obrigatória nos cursos de intel.
Terceiro desafio é mapear mesmo todas as formas de manipulação intencional das emoções e comportamentos da sociedade que as Orcrim utilizam para convencer, modificar ou dividir as opiniões em diferentes espaços.

E como você avalia a relação entre inovação tecnológica e o emprego de Operações Psicológicas na Inteligência Penitenciária?

É uma linha muito tênue, pois, por meio das inovações tecnológicas empregam-se operações psicológicas em qualquer contexto, agilizando o processo de manipulação de massa para convencer rapidamente um grupo social.

Quais habilidades, com base em sua avaliação, seriam essenciais para um profissional que deseja atuar com Operações Psicológicas?

Ter conhecimento aprofundado da temática, conhecimento sobre comportamento humano, noções básicas do psiquismo humano, do psiquismo coletivo, da formação de comportamento social. Acho que estudar psicologia seria uma excelente ideia.

Como as unidades de Inteligência Penitenciária podem colaborar com o trabalho de Operações Psicológicas no contexto de Unidades Prisionais?

Obtendo e enviando informações que conseguirem por meio da escrita, de telefones apreendidos, de mudanças de comportamento dentro das unidades prisionais para as Unidades de Operações Psicológicas.

Você poderia comentar sobre algum caso de sucesso na aplicação de Operações Psicológicas no contexto de Unidades Prisionais?

Aplicada pela gestão: houve um caso em que duas ORCRIM que mantinham uma relação de negócios para a compra de drogas e armas em regiões de fronteira se uniram para assassinar um alvo em comum. Após o sucesso dessa empreitada, ambas estabeleceram um pacto solidificado. No entanto, o pacto rapidamente se desfez devido à aplicação de Operações Psicológicas, que envolveram a disseminação de notas na mídia e o envio de diversas mensagens por ambas as partes. Poucos meses depois, houve a ruptura entre as ORCRIM.

Quais implicações éticas devem ser consideradas ao se conduzir uma Operação Psicológica em unidade prisional?

Descumprimento da segurança da unidade prisional, preservação de vidas, ilegalidades, descumprimento da Lei ou de tratados internacionais estabelecidos pelo Estado.

Por fim, como você vê o futuro das Operações Psicológicas em unidades prisionais no Brasil? Quais cenários podem ser identificados?

Extremamente promissor, necessário e importante. As operações psicológicas tem por escopo principal a tentativa de conquistar “corações e mentes” sem a utilização da força, influenciando principalmente a capacidade argumentativa e a opinião dos alvos previamente escolhidos e estudados, por meio de uma campanha bem empregada. Seu impacto depende da credibilidade das ações utilizadas e seus efeitos atingem valores, crenças, emoções, motivações, raciocínios ou comportamentos, de uma ou mais pessoas. literalmente copiado do artigo – parte que gosto muito.

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Lacerda
Lacerda
8 meses atrás

Excelente! Seu trabalho é realmente inspirador. Admiro muito a sua dedicação e o cuidado que você coloca em cada detalhe.

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