Especialistas em operações psicológicas sabem que uma boa propaganda deve ser ao mesmo tempo simples e impactante. A simplicidade reflete-se diretamente na facilidade com que a mensagem é assimilada e posteriormente reproduzida (propagada entre os seus destinatários) e o aspecto impactante está relacionado com a sua capacidade de persuasão (provocar comportamentos que sejam do interesse de seu emissor).
Ao longo da História, existem diversos exemplos de propagandas que atenderam, com excepcional maestria, a esses dois requisitos. Uma delas, sem sombra de dúvida, foi o uso da Quinta Sinfonia de Beethoven como símbolo da resistência pelos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
A associação inicial surgiu com a letra “V”. Elemento graficamente simples, que poderia ser facilmente reproduzido em diferentes situações, além de ser a letra inicial da palavra “vitória”, tanto no idioma inglês quanto na língua francesa, o “V” também se assemelhava visualmente a uma alça de mira, dispositivo empregado pelos soldados para fazer pontaria e direcionar os disparos do seu armamento.

A facilidade de representação gráfica do “V” (apenas duas linhas diagonais, uma descendente e outra ascendente) fez com que a sua imagem passasse a figurar em vários locais utilizados como suporte para a propaganda de guerra: muros, paredes, estradas, equipamentos, uniformes e qualquer outro lugar em que pudesse ser visualizado por combatentes e não-combatentes das Forças Aliadas.

Da mesma forma, o gesto em que um “V” era formado exibindo-se simultaneamente os dedos indicador e médio de uma das mãos, também passou a ser utilizado como emblema da resistência entre os Aliados.

Contudo, as associações não pararam por aí…
Nas transmissões telegráficas, que eram efetuadas em código Morse, a letra “V” era indicada por três pontos e um traço [ … _ ]. Esse conjunto de elementos era obtido pela execução de três toques curtos e um prolongado, de tal forma que o som produzido pela emissão de um “V” em código Morse correspondia exatamente ao mesmo padrão rítmico utilizado na abertura da Quinta Sinfonia de Beethoven.

Não demoraria muito para que o “V da Vitória” também fosse associado aos acordes iniciais da Quinta Sinfonia de Beethoven, os quais passaram a ser utilizados para indicar o início das transmissões realizadas pela Rádio BBC, que cumpriu importante papel na difusão de notícias e propagandas durante a 2ª Guerra Mundial.
Apenas por sua natureza sonora, a associação entre o “V da Vitória” e a 5ª Sinfonia de Beethoven já seria fenomenal. Contudo, havia ainda um outro aspecto que reforçaria ainda mais o uso desse símbolo… Composta entre 1804 e 1808, a Sinfonia do Destino, como ficou conhecida, marcou a superação de uma das piores fases da vida de Beethoven, que após atravessar momentos de profunda agonia e depressão, decidiu seguir com sua carreira e voltar a compor, mesmo com o aparecimento de uma surdez progressiva que o acompanharia até o fim de sua vida. E essa mensagem, de superação das adversidades e fortalecimento da esperança, era plenamente compatível com os objetivos da propaganda veiculada pelos Aliados durante a 2ª Guerra Mundial.
E foi assim que a Quinta Sinfonia de Beethoven, que, diga-se de passagem, em algarismos romanos também se representa com um “V” (semelhante ao “V da Vitória”), ingressou definitivamente para o arsenal da propaganda utilizada pelos Aliados durante a Segunda Guerra Mundial.
